quinta-feira, dezembro 06, 2012

União de Leiria: no campeonato distrital com a alma de quem disputa uma final europeia


Recomeçar dos distritais, como em 1966. A União de Leiria estreou-se no domingo na 1.ª Divisão distrital com uma goleada (5-1). O JORNAL DE LEIRIA acompanhou todos os momentos deste regresso histórico às origens.
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Domingo, dia 2 de Dezembro de 2012: chegou o primeiro dia do resto da vida da União Desportiva de Leiria. Frente a Os Unidos, de Casal dos Claros e Coucinheira, a equipa de Luís Bilro estreia-se na 1.ª Divisão, zona Sul, da Associação de Futebol de Leiria. É o dia do começar de novo, como em 1966, ano de fundação do clube, e de deixar para trás os momentos tristes. É hora de olhar para o símbolo, pensar na história e encarar o futuro com muita ambição. O JORNAL DE LEIRIA resolveu associar--se à data e acompanhou bem de perto todos os passos do grupo de trabalho, num dia que acabou de sorrisos nos lábios de todos os unionistas.
Há dias assim, felizes. São 11 horas e o plantel concentra-se para o almoço no Hotel Cristal, na Marinha Grande. Um quarto de hora depois, chega então a sopa de legumes e o frango assado com esparguete, uma verdadeira refeição para atleta. Apesar de a equipa sénior já ter feito cinco jogos para a Taça do Distrito de Leiria, em que somou quatro vitórias e um empate – precisamente com Os Unidos – é hoje o dia em que tudo começa a doer. Apesar da vontade de ganhar e do respeito pelo adversário, todos os jogadores estavam bem dispostos e com apetite. Não só de frango, mas sobretudo de vitórias. Até porque um emblema com a história da União só pode entrar em campo para ganhar. Seja com quem for.
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Palestra
É meio-dia e meia hora. Terminado o almoço, vista a televisão, jogado o snooker, os jogadores concentram-se numa sala. Mister Luís Bilro, o homem que mais vezes representou o símbolo do castelo na 1.ª Divisão, vai falar. Está na altura de focar os jogadores nos 90 minutos que aí vêm. “Hoje iniciamos uma nova era deste clube”, arrancou. “A União de Leiria tem um história rica, mas por motivos que nada têm a ver connosco, vê-se inserida nesta nova realidade. E somos nós que marcamos este momento histórico e tudo o que conseguirmos será uma referência dentro desta instituição.”
Silêncio. O plantel é composto por uma mescla de jogadores novos e outros veteranos, mas todos sentem e bem o peso do emblema que esteve presente em competições europeias, foi finalista da Taça de Portugal e que foi representado por nomes grandes do futebol mundial. Luís Bilro dá o exemplo. “José Mourinho e seu pai, Félix, defenderam esta camisola e esse é um motivo de orgulho para eles”, garante.
Trata-se, pois, do “renascer do clube”, frisa o técnico. “Liderar este projecto a começar do nada e lutar por um objectivo que está bem definido é um motivo de grande honra.” E de grande stress, também... “Vivo as coisas intensamente. Tenho tentado corrigir-me, mas isto está a tirar-me o sono”, confessa o eterno capitão. “Já estive num Mundial de futebol de praia e numa final da Taça de Portugal, mas não tem nada a ver com isto. Porquê? Não sei”, diz Luís Bilro. O guarda-redes Vítor Maranhão ironiza. “Se estivesse no Sporting já tinha morrido.” Risos na sala.
O técnico fala ao ego dos jogadores. “Este é um grupo de futebolistas reconhecidos na região por ter  muita capacidade. Acredito nas vossas qualidades e se vocês também acreditarem estaremos mais perto de ganhar.” Por isso, reforça, pretende atletas com “auto-estima elevada”. “Queremos subir de divisão”, diz Luís Bilro. ”Vocês estão muito acima da realidade em que estão integrados. É uma questão de interiorizar e colocar em prática. É chegar, jogar e fazer a diferença.” O treinador pede “rigor defensivo”, “jogo a 2 ou 3 toques”, “sair das marcações e aparecer”, “criar linhas de passe” e “remates”. “O futebol é movimento e se jogarmos assim vamos criar dificuldades do lado de lá, porque tecnicamente somos superiores.” Surpreendido com o passar do tempo, Bilro termina a palestra pedindo “nervo” aos atletas.
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Balneário
São 13:15 horas e a comitiva ruma ao Estádio Municipal de Leiria. Vinte minutos depois já está tudo no Magalhães Pessoa. No passeio pelo tapete verde, o brasileiro Jefferson queixa-se... do frio. O estado do relvado não merece consenso e alguns jogadores brincam com uma sonhada final da Taça entre a União e o Marrazes, com 30 mil na bancada. A maioria fala de futebol, outros isolam-se no banco de suplentes em período de concentração.
Falta uma hora. Os atletas vão para o balneário e equipam-se. O ambiente é descontraído. Brinca-se, com muito riso à mistura, com a cor de boxers de uns e outros. “Só um apontamento rápido”, pede o treinador. “O que vai acontecer agora é importantíssimo e diz muito do que vai ser o nosso sucesso no presente e no futuro. A 45 minutos do apito inicial, quatro membros da claque entram no balneário. Nuno Violante lê uma “carta aberta aos atletas seniores da mágica União” , onde espelha a alma unionista e exorta os jogadores a continuarem a dignificar e glorificar a camisola branca.  Um momento emotivo que deixou muitos com pele de galinha.
Depois de os adeptos saírem do balneário, Bilro toma a palavra. “O que acabámos de assistir é um exemplo vivo do que vos tenho dito. É esta grandeza, esta importância que nos dão, esta forma de nos fazerem sentir grandiosos. Agora, temos de saber corresponder e isso não é pressão nenhuma, porque sei do vosso valor.”
Faltam 35 minutos para o jogo e a equipa ruma ao aquecimento. Giovanni, que vai ser suplente, fica a rezar. Quando faltam 10 minutos, novamente no balneário, Bilro volta a dirigir-se aos seus atletas. Em roda fechada, com todos abraçados, pede “atitude”. “Quero uma equipa agressiva, a lutar, com garra e vontade de vencer.” “Vamos começar a escrever uma página nova na vida deste clube e queremos que seja com uma grande vitória”, conclui o central Marco Aurélio.
São 15 horas. O antigo presidente Joaquim Marques, e o ponta-de-lança Carlão, agora no Sporting de Braga, dão o pontapé-de--saída simbólico. O árbitro Luís Marcelino apita para o início da partida. Na bancada estão cerca de 600 espectadores. Vítor Maranhão, Rui Bento, Marco Aurélio, Mário Wilson, Edgar Carvalho, Santiago, Jefferson, Leandro, Bruno Novo, Dário Marquês e Edgar Grincho formam o primeiro onze da caminhada da União de Leiria rumo à Divisão de Honra.
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Goleada
E o jogo dificilmente poderia começar melhor. A meio da primeira parte, a União de Leiria já vencia por 4-0. Fábio Santiago aos 7, Dário Marquês aos 9 e aos 14, e Bruno Novo aos 24 minutos marcaram os golos. “O orgulho da cidade somos nós”, gritava a plenos pulmões a claque, entusiasmada com o arranque arrasador. A equipa baixa de nível e Os Unidos equilibram a partida. Até ao intervalo não houve mais golos e poucas foram as oportunidades. “Brutal, monstruoso”, diz Bilro já no balneário, onde os atletas se serviam de bananas, maçãs e bolachinhas para recuperar as forças. “Simplicidade de processos, todos os movimentos bem feitos, a abrir espaços para os colegas, mas depois deslumbrámo-nos”, adverte o treinador.“ A segunda parte arranca com a claque a gritar “Vocês são o nosso orgulho.” No entanto, o jogo permanece equilibrado. Dárcio reduz para a equipa da freguesia de Amor aos 59 minutos, mas Giovanni, entrado ao intervalo, emendou à boca da baliza um remate de Leandro e fez o 5-1. “A União está de volta”, festejavam os ultras.
Quando Luís Marcelino terminou a partida, a equipa abeirou--se das bancadas e foi cumprimentar aqueles que mais puxam por eles. A empatia está criada, os resultados aparecem, parecem estar todos a puxar para o mesmo lado.
“Excelente jogo e atitude”, concluiu Bilro, num balneário inundado pela tranquilidade e sentido de dever cumprido. “Jogámos bem, estamos a crescer. Espero que seja a primeira de muitas vitórias, mas ainda temos muito trabalho pela frente. A começar já no domingo, na Marinha Grande, frente a Os Vidreiros.”
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Claque entrou no balneário
Carta aberta aos atletas da mágica União
“Esta época corresponde a um renascimento de um clube com décadas de história e vitórias. Desde 1966 que a União Desportiva de Leiria representa a cidade de Leiria e os leirienses com brio e alegria. Os jogadores da equipa de 1966 ainda são lembrados, justamente, pelos adeptos. Pois neste renascimento, são os vossos nomes que queremos lembrar durante décadas. O que é verdade é que apesar das excelentes equipas jovens e dos seus resultados, é a equipa sénior que representa o clube na primeira linha e, por isso, vocês são a cara de um projecto, de um clube, que quer voltar a representar os seus sócios e simpatizantes de uma forma decidida e honesta. Não há palavras para descrever aquilo que vemos na bancada. Orgulha-nos que sejam um grupo unido, que bate no peito depois dos golos, que cumprimenta os adeptos no final, que claramente assumiu os valores do clube como dele próprio. (...)
No entanto, só agora, com o início do campeonato, começa a verdadeira maratona! É absolutamente essencial que a UDL cresça e, portanto, é essencial apontar ao lugar cimeiro do campeonato. Sabemos bem que vos pedimos mais do que vocês são obrigados a dar enquanto atletas amadores (...). E como pagamento, apenas vos podemos prometer o nosso apoio na vitória e na derrota, a continuação das romarias nos jogos fora e o nosso aplauso (...).
Vocês são a equipa do renascimento e por isso ainda vos pedimos que representem os valores do clube noutros aspectos: que os mais novos aprendam com os mais velhos e os mais velhos ensinem os mais novos; que todos respeitem o homem que mais vezes vestiu a camisola da União Desportiva de Leiria – capitão Bilro – e que queremos que seja o que mais vezes se vai sentar no banco do clube; que a dedicação e companheirismo continuem evidentes; que não esmoreça a excelente relação com os adeptos!
Hoje começa a maior e mais difícil de todas as etapas. Sabemos que temos os atletas certos para vencer! Vençam por vós, pelo grupo, pelo treinador, pelos adeptos e pelo clube! Força rapazes!”

Miguel Sampaio - Jornal de Leiria

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