terça-feira, junho 22, 2010

“As finais são para erguer a Taça e o resto é conversa”

De saída do Pataiense, onde esteve duas épocas, tendo conquistado a Taça Distrito de Leiria, Walter Estrela vai abraçar um novo projecto no Ginásio. Não se cansa de elogiar os seus jogadores e com eles criou laços de amizade que vão perdurar durante uma vida. Honesto e directo não tem problemas de dizer o que pensa acerca dos vários assuntos. Não esquece o seu pai, a quem prestou uma sentida homenagem no jogo do seu primeiro título como treinador.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > Que balanço faz da época 2009/10?
WALTER ESTRELA (WE) > Positivo. Muito positivo.Atendendo ao clube que estávamos, às dificuldades que tivemos durante a época, à juventude do plantel, ao facto de alguns jogarem pela primeira vez na Divisão de Honra, atendendo a estarmos num clube que todos os dias tinha uma situação para resolver, não posso estar mais satisfeito. Poderiamos ter feito mais alguma coisa no campeonato, pois tinhamos condições para isso, mas no cômpeto geral, excelente.
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RC > Quer dizer então que os objectivos foram atingidos?
WE > Sim e não. Para quem é ambicioso e quem se rodeou de jogadores novos e com ambição, para eles não pode chegar. Podem estar felizes pela época que fizeram mas têm que exigir mais. Poderíamos ter subidos uns três lugares na tabela classificativa. Na Taça não há muito a dizer, fizemos o pleno.
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RC > O Pataiense melhorou o registo pontual em relação a 2008/09. Depois de um 10.º lugar, um 7.º posto. O que mudou de uma temporada para a outra?
WE > É um 7.º posto com os mesmos pontos que o 6.º e a um ponto do 5.º classificado. Perdemos pontos onde não perviamos, nomeadamente nas Meirinhas e nesta parte final em que perdemos um ou dois jogos que nos dariam a possibilidade de ficar num 5.º lugar. O que mudou foi os jogadores, a sua qualidade, a sua mentalidade. O treinador começou a conhecer melhor as outras equipas, o modo como os treinadores desenrolavam os jogos e rodeou-se de gente capaz e de gente que já conhecia. O conjunto de todas estas coisas e quando há qualidade e vontade é muito mais fácil e foi isso que aconteceu.
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RC > Foste a par do treinador do Pedroguense o único a bater o Bombarralense no campeonato. No seu caso também os venceu na Taça. Teve um sabor especial?
WE > Tinha se tivessemos sido campeões. Ou seja, de uma das vezes teve mais sentido especial como diz, do que no campeonato. Foi apenas um jogo. Gánhamos, tudo bem... Estávamos a preparar a Taça. No jogo da Taça teve um sentimento forte. Em conversa com os jogadores disse que se passássemos o Bombarralense tinhamos metade do caminho feito, ou mais de metade. Depois com muita classe e muita calma eliminámos o Outeirense e depois as finais é para erguer a Taça e o resto é conversa.
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RC > Acha que o Pataiense tem a estrutura necessária para poder aspirar ao título na Divisão de Honra?
WE > Para já penso que não. Mas se continuar a ter a mesma dinâmica, as mesmas pessoas que querem e têm alguma ambição secalhar podemos dizer que daqui a três ou quatro anos o Pataiense possa lutar por outros lugares. Têm é que manter a mesma dinâmica, a mesma estrutura, as mesmas pessoas. Os jogadores que forem para o clube não podem ir só porque é bom, têm que confiar no trabalho que se realiza lá. E o próprio treinador que for para lá tem de manter tudo isto que foi feito nos últimos três/quatro anos.
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RC > Está a dizer, portanto, que está de sáida?
WE > Sim, estou de saída.
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RC > Já tem o futuro definido?
WE > Assinei esta manhã (quinta-feira) pelo Ginásio de Alcobaça. Garantimos a minha ida por volta do meio-dia.
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RC > Foram-lhe pedidos objectivos mínimos?
WE > Não vale a pena a Direcção dizer que os objectivos são x. Comigo é sempre o melhor possível. Se no Pataiense ganhei a Taça gostaria de o repetir em Alcobaça. Pelo menos ir novamente à final. O campeonato logo se vê. Nesta divisão todas as equipas devem ter ambição. Se eu estou a treinar o Alcobaça, o Alcobaça deve ter ambição. Se vai subir a conversa é outra. Agora, que vamos lutar em cada jogo para ter os três pontos isso as pessoas que fiquem cientes de que isso vai acontecer. Vamos vender caro as situações negativas que nos aparecerem. Vou lançar um desafio aos jogadores: Tentar repetir a presença na final da Taça, até porque eu adorei aqueles momentos assim como os meus jogadores.Os jogadores do Alcobaça não terão memórias tão positivas, mas pode ser que para o ano vivam mais alegrias.
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RC > Continuando. Na sua opinião das equipas que defrontou na Honra, qual a que praticou melhor futebol?
WE > Nós a espaços praticámos bom futebol. Mas há equipas como o Bombarralense, que na parte inicial da época foi fortíssimo, porque tinha condições para o fazer. O Guiense também praticou bom futebol. As equipas que ficam em cima ou são muito experientes ou praticam bom futebol. Mas há equipas da segunda metade da tabela que também tinham qualidade. Lembro-me do caso do Marrazes, que era uma equipa extremamente rápida, com uma frente de ataque muito boa e que fez um campeonato abaixo das possibilidades. Isto muitas vezes não é como nós queremos, é como as coisas acontecem e temos de dar tempo ao tempo. Há várias que jogaram bom futebol e uma mais experiente que as outras todas, que era o Bombarralense.
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RC > Arrisca-se a estruturar o onze ideal da Divisão de Honra?
WE > Para mim o melhor 11 é o do Pataiense. Era injusto para uma equipa tão jovem eu retirar o brilhantismo que o Pataiense teve esta época. Se puderia e deveria ser reforçado? Deveria. Na zona central do meio-campo e da defesa. Nós tinhamos de ter soluções quando elas nos faltaram. Essencialmente na zona do meio-campo. Porque tivemos um jogador que fez um campeonato brilhante, muito acima da média, que foi o Pedro Morais. Tivemos outro que apareceu no 11 pelo trabalho que desenvolveu, que foi o Picamilho e há um jogador que em termos de meio-campo, que é o João Costa, que é jogador de 1.ª Liga, mas por várias razões está a demorar a afirmar-se. Porque se o João Costa meter tudo o que tem em campo não fica muito tempo nestas divisões, porque tem muita qualidade!
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RC > Vencer a Taça Distrito de Leiria foi até ao momento o ponto alto da sua carreira como treinador?
WE > Se estamos a falar de títulos é evidente. Em dois anos como treinador principal de uma equipa sénior posso-me orgulhar de dizer que ganhei a Taça da Associação de Futebol de Leiria. A melhor equipa que treinei vai ser sempre a primeira. Que foi a equipa de juniores do Nazarenos. Vai ficar marcada, porque foi a primeira vez que me deram hipótese de treinar, foi a primeira vez que entrei num balneário como treinador e foi uma equipa que foi construída um pouco à imagem desta segunda época no Pataiense, com esforço, suor, lágrimas. Foi uma equipa que me foi dada para descer de divisão e acabámos num 4.º lugar.
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“Queria que o meu pai  estivesse ao pé de mim... e estava”
Segundos antes do final da partida da Taça, Walter Estrela mostrou para o público onde estava também a sua mãe uma t-shirt com a imagem do seu pai. Uma homenagem que quis prestar ao seu ente querido e que relembra como um momento espontâneo: “É um momento que não é pensado. Porque eu dois dias antes estava na minha loja e olhei para uma t-shirt que estava a arrumar e tinha uma imagem à frente e pensei: Vou arranjar uma t-shirt e vou por uma imagem do meu pai para usar na final. Mas como eu sei que a maior parte das pessoas neste mundo criticam pelo bem e pelo mal, resolvi ter a t-shirt sempre por baixo do fato de treino. Era uma homenagem minha para o meu pai independentemente de qual fosse o resultado. Queria que ele estivesse ao pé de mim... e estava. Segundos antes eu senti que o jogo estava ganho e tentei que a claque do Pataiense apoiasse a nossa equipa, quando deparei com a minha mãe e além do gesto de vitória que ela teve vi na cara dela que faltava ali alguém. Tudo o resto já se sabe. Foi uma explosão que saíu. Tou feliz pelo que aconteceu e pelo meu pai ter sido lembrado naquele campo.

Décio Vigia - Região de Cister

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