Entrevista a Bruno Neto

FDL - Depois de uma época em que foste o preparador físico do C.R.C.22 de Junho/Amor, o que te levou a aceitar jogar de novo e porquê a opção Pilado?
BN - Na época transacta era para ter prosseguido a minha carreira de jogador no Marrazes a convite do actual treinador dos Juvenis do UDL, Gonçalo Moleirinho, quando a minha intenção era ter terminado o meu percurso como jogador. Devido a um início de época um pouco conturbado com lesões e uma situação profissional sem rumo devidamente definido, decidi parar. Depois surge o convite para colaborar com o Sr. Fernando Gil no 22 de Junho/Amor e achei que poderia dar um contributo proveitoso. Certo é que trabalhar com seriedade num campeonato distrital é bastante difícil e inglório. A época terminou e reequacionei novamente todos os planos para iniciar uma nova temporada. Surgiram alguns convites para as mais diversas funções, projectos que passavam por jogar ou orientar. Desde adjunto nos Juniores do Marinhense (campeonato nacional), treinador do escalão sénior do 22 de Junho, jogador no Unidos, jogador do SDRPE e treinador dos iniciados neste último. Porquê ter aceite o convite do Pilado/Escoura? Simples. É uma instituição de respeito, com condições, com um excelente grupo de trabalho e com ambição. Para esta temporada, o Pilado faz um esforço maior no sentido de conseguir alcançar os objectivos a que se tem vindo a propor ao longo das últimas épocas. A oportunidade de jogar e orientar uma equipa de iniciados em simultâneo foi factor determinante para a escolha. Esta época, o SDRPE foi o clube que me ofereceu as melhores condições e que me levou a acreditar que seria a melhor escolha.

FDL - Paralelamente, vais também treinar uma equipa da formação do clube. O cargo de treinador é uma função que te atrai?
BN - Sim. Como já referi, esse foi um aspecto determinante para a minha escolha. Quando recebi o convite do ACM para trabalhar com os júniores no campeonato nacional, pensei duas vezes. Conversei com o presidente do ACM mas as condições que encontrei eram mais precárias, desculpem o termo, do que as que o Sr. Paulo Moleirinho me ofereceu e portanto decidi pelos iniciados. O cargo de treinador alicia-me e é algo a que tenciono dedicar-me, mas as condições que encontramos nos clubes não permitem, como já referi, um trabalho mais sério. Depois da experiência da época passada no CRC como preparador físico, resolvi este ano assumir o comando e tentar. Poderá ser o início de uma nova fase na minha carreira ou então a retirada definitiva. Pode parecer que estou a condenar-me desde o já ao fracasso mas não se trata disso. As condições e mentalidades têm de evoluir no sentido da responsabilidade e da seriedade. Esta é uma época que pretendo levar muito a sério, quer como jogador, quer como treinador. Tenho outras áreas pelas quais me interesso tanto ou mais portanto pretendo que este ano seja um verdadeiro teste no sentido de perceber a minha compatibilidade com o futebol.

FDL - Muito se tem falado nesta pré-época do Pilado. Até onde acreditas que pode chegar esta equipa?
BN - Muito se tem falado, principalmente, em relação aos resultados. A equipa do Pilado está tranquila porque sabe aquilo que vale. Tem valor e vontade de mostrar esse valor. Esta equipa, em relação à da época anterior, sofreu algumas mudanças. Foram recrutados jogadores provenientes de vários clubes e o que se procura é o equilíbrio e conhecimento mútuo. Cada coisa a seu tempo…

FDL - Sendo tu uma pessoa ligada há muitos anos ao futebol, preocupa-te o número crescente de equipas que desistem da competição e o que é que achas que leva a isso?
BN - Sinceramente não me preocupa. O segredo está na qualidade e não na quantidade. Na minha óptica é preferível não investir quando se considera que não se tem o suficiente para fazer frente à concorrência. Muitas instituições vêm a arrastar-se, digo arrastar-se porque fazem um esforço enorme para manter o futebol, quando não obtêm receitas nem resultados que o justifiquem. Já me acusaram de ser anti-futebol distrital mas não é disso que se trata. Sou a favor de uma opção entre um futebol distrital competitivo e de qualidade ou simplesmente recreativo. Não me perguntes em qual votaria. São decisões difíceis mas urge a necessidade de serem tomadas decisões pelas pessoas certas. Quanto às instituições que desistem ou interrompem a sua actividade nesta modalidade, espero que realmente canalizem os recursos financeiros para projectos culturais e desportivos que satisfaçam todos e não apenas um grupo restrito. Como sabes, o meu interesse é pelo desporto em geral e não pelo futebol em particular, embora tenha uma enorme estima pelo último.

FDL- A nível geral espera-se uma 1ªDistrital-Sul muito forte. Quem achas que são os mais sérios candidatos a subida?
BN - Pelo que me tenho apercebido, por conversas que tenho tido com algumas pessoas que se movimentam no meio, este será o campeonato do tudo ou nada para muitos clubes. Refiro-me, claro, a todos aqueles que investiram financeiramente em contratações para oferecerem aos seus técnicos os planteis que desejavam. Portanto, não tenho dúvidas que a série Sul será muito boa de disputar e assistir. Os mais sérios candidatos à subida? Nós!!! (sorrisos)

FDL - Já jogaste no Pilado, e todas as épocas o clube tem boas equipas, e umas óptimas condições de trabalho, mas acabam por não conseguir o objectivo da subida de divisão. O que achas que tem falhado?
BN - Essa é uma questão difícil de abordar. Não por estar a trabalhar novamente com o Pilado, se não acreditasse no projecto não estaria lá. Não serei, certamente, a pessoa indicada para julgar o fantástico trabalho desta direcção e do seu presidente. Penso que nada acontece por acaso. O acumular de erros ao longo destes anos tem sido importante para perceber qual o rumo certo a tomar para alcançar a tão desejada subida de divisão. Posso garantir-te que velhos hábitos estão a ser corrigidos e isso é sinal que os dirigentes e jogadores do clube têm consciência das falhas antecedentes.