quarta-feira, novembro 20, 2019

“No início nem queria ir à Selecção porque não me sentia confortável”

Começou a jogar futebol muito cedo no clube do coração, o SCL Marrazes, onde fez toda a sua formação. O talento permitiu-lhe outros voos e chegou ao Campeonato de Portugal, mas aí o futebol de praia já tinha entrado na sua vida e para ficar. Rapidamente passou a ser presença assídua na Selecção Nacional e esta sexta-feira está a caminho do Mundial, no Paraguai, de onde quer sair com o 'caneco'. Em entrevista ao Diário de Leiria, André Lourenço aborda toda a sua carreira no futebol de 11 e no futebol de praia, e não poupa elogios aos colegas de Selecção Nacional Rúben Brilhante e Jordan Santos, ambos da Nazaré.  Aos 24 anos, André Lourenço diz que ainda tem muito para ganhar.

Parte hoje para o Paraguai para participar no Mundial ao serviço da Selecção Nacional. Quais são os objectivos?
 O objectivo é ganhar. Temos um grupo muito difícil com Brasil, Nigéria e Omã, são equipas todas elas muito difíceis. Antes o futebol de praia era Brasil, Portugal e mais uma ou outra equipa, agora, só na Europa, há sete ou oito equipas a um nível muito alto. No futebol de praia, um dia mau tira-nos do mundial. Temos que ir jogo a jogo, mas o objectivo é sempre ganhar. Para quem é segundo classificado no 'ranking' mundial não pode pensar de outra forma.

Como surgiu o futebol de praia na sua vida?
 Foi através do convite do Sandro [Brito], treinador do GRAP, em 2016. A primeira vez que fiz um treino pensei: 'mas o que é que eu estou aqui a fazer? Não jogava nada. No futebol de praia há questões técnicas que têm que ser treinadas e criar o hábito. Eu lembro-me que nem ia aos treinos porque não me sentia confortável. O que mudou tudo foi uma dupla jornada da fase regular do campeonato nacional, em Espinho, em que um jogador do GRAP se lesiona uma semana antes. O Sandro 'teve' que me levar. Depois, na fase final, as coisas começaram a correr bem, comecei a gostar daquilo, e na época seguinte ficámos em terceiro lugar. Depois, em Dezembro estava a ser chamado à Selecção Nacional. Eu nem queria ir porque não me sentia confortável. E agora é o que é.

O facto de ter sido chamado à Selecção Nacional mudou-lhe o 'chip' em relação ao futebol de praia?
 Mudou. Quando se vai à Selecção e se representa Portugal, uma pessoa pensa de outra forma. Tive a sorte do mister gostar de mim. Se eu já me sentia desconfortável no GRAP, imagina a jogar com aqueles jogadores todos de topo. A adaptação foi difícil, não por eles, mas por mim. Eu era o único que não treinava na areia porque jogava futebol. Ou seja, eu chegava aos estágios um bocado às aranhas. Apostaram em mim e chegou a uma altura em que tive que optar. Foi quando fui chamado ao Europeu de 2018.

Foi aí que deixou de pensar no futebol de 11 para se dedicar mais ao futebol de praia?
 Na altura estava a jogar no Campeonato de Portugal. Tinha deixado o Marinhense para jogar no Oleiros e acabo a época muito bem, a fazer golos e assistências. Continuei no Oleiros, mas sempre envolvido nos estágio da Selecção até que fui chamado para o Europeu, em Itália, algo que eu não estava nada à espera, e aí tive que optar porque também não era justo para o Oleiros porque pagavam-me e eu andava quase o tempo todo na Selecção. Assim, optei vir para o Vieirense [Divisão de Honra distrital], em que consigo fazer mais treinos na areia.

Em termos físicos acaba por ser muito exigente estar envolvido no futebol e no futebol de praia.
Completamente. A minha vida é ginásio e areia, e depois ainda treino futebol de 11. Chego a fazer três treinos por dia.

E como é que se faz essa gestão das duas modalidades?
 Felizmente o Luciano [Silva, treinador do Vieirense] e a estrutura do Vieirense permite-me desdobrar, sabendo que o futebol de praia é a prioridade. Ainda agora tive na Turquia, uma semana fora, voltei e joguei. Dão-me essa liberdade. Se assim não fosse não poderia jogar futebol.

Tendo que optar entre as duas modalidades, não há dúvidas para si.
 Seria o futebol de praia, claro. Só estou no Vieirense porque gosto de jogar futebol de 11 e acaba por ser bom para mim porque corro, jogo e adquiro ritmo competitivo. Tem um lado perverso que é o de poder ter alguma lesão.

Que diferenças há em jogar na areia?
 É uma questão de hábito. A areia cansa e até o tipo de areia interfere no nosso desempenho. Já cheguei a jogar em Itália e a areia parecia um chão, não afundava. Era uma maravilha. As areias do tipo da Nazaré são mais pesadas, cansam mais rápido, a bola enterra mais, convém jogar mais no ar do que no chão. Tens que te adaptar. Há gestos técnicos como o passe pá que tens que aprender ou, a correr, não deves afundar o calcanhar para teres uma reacção mais rápida. Depois, a preparação física é fundamental. Por mais técnica que tenhas, se não tiveres bem fisicamente não tens hipótese. É assim em todo o lado, mas na areia ainda é pior.


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