quinta-feira, abril 15, 2010

“Os talentos no futebol surgem com naturalidade”


Paulo Ribeiro tem o desporto presente no seu coração a cada hora que passa e esteve sempre ligado a alguma modalidade, tanto como praticante ou treinador. A Biblioteca entusiasma-o. No emblema de Valado dos Frades foi jogador, dirigente e, como treinador, esteve nas melhores épocas de sempre na Divisão de Honra.
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REGIÃO DE CISTE R (RC) > Que funções tem como coordenador de gabinete técnico da Associação de Futebol de Leiria (AFL )?
PAULO RIBEIRO (PR) > Como o próprio nome indica, os coordenadores são os organizadores, dinamizadores e responsáveis pelo gabinete técnico de cada associação distrital. Além de responsáveis pela formação das selecções distritais de todas as variantes do futebol de onze, futsal e futebol de sete, masculino e feminino, são responsáveis pela cooperação na organização de provas, na realização de cursos e acções de formação para treinadores, são um elemento de ligação ao departamento de futebol e formação da FPF, onde por vezes são chamados a cooperar ou a participar em grupos de estudo e outras actividades, como observação de jogadores.
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RC > O cargo que ocupa é para si, até ao momento o ponto alto da sua carreira?
PR > No caminho que temos para percorrer ao longo da nossa vida seja social, este é apenas mais um passo dessa longa caminhada. Iniciei a minha actividade como treinador de futebol em 1988. Para mim, este é apenas mais um passo dessa longa caminhada mas um grande desafio, talvez o de maior responsabilidade.
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RC > Levou Ricardo Esgaio ao Sporting, onde ainda permanece. Vê mais atletas da região com valor para singrar nos nacionais jovens?
PR > Ele está no Sporting porque as invulgares capacidades que revelou fizeram dele um potencial talento, que captou desde cedo a nossa a atenção e a dos observadores. Porque foi bem acompanhado no percurso escolhido, planeado e seguido nos treinos de captação no Sporting, o caso do Ricardo tornou-se de sucesso pela sua dedicação, vontade e acompanhamento dos pais. Este trilho que foi reaberto não é um caminho fácil e muitos são os pais e familiares que se iludem e provocam ilusões em jovens jogadores que mais cedo ou mais tarde abandonam a prática desportiva desiludidos com “falsos pagadores de promessas”. Ele é a excepção e não a regra. A regra é dar aos jovens a possibilidade de praticarem o futebol com prazer, em boas condições, que hoje, com excepção do campo da Biblioteca no Valado, já há na região. Os talentos surgem com naturalidade e não na produção de uma qualquer “cantera”, onde por vezes muitos jovens talentos são trucidados pela ânsia exacerbada de maus lideres e falsos treinadores. O Ricardo Esgaio é a excepção de uma geração que tem desde as escolas bons jogadores como o Edi Milhazes, Jordan Santos, Hugo Carvalhido, Cláudio Veríssimo, Daniel Novo, Carlos Silva ou Lauro entre outros, todos escolas do Nazarenos em 2001/2002, todos potenciais jogadores, alguns com experiências em clubes de referência nacional e regional e todos começaram na Nazaré.
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RC > Esteve nos melhores anos da Biblioteca. Segue os resultados do clube?
PR > A Biblioteca é a minha paixão. Na Biblioteca fui jogador, treinador, dirigente, colaborador ou apenas sócio. É evidente que acompanho e estou sempre que posso com os dirigentes, jogadores e equipa técnica. A época passada foi ingrata porque teve um inicio pouco normal, muitas lesões graves, e alguns grãos que continuaram a emperrar a engrenagem, mas esta época a equipa está
bem, tem um plantel curto mas de qualidade, amador, sem ervas daninhas e que têm em comum duas coisas, gostar de futebol e o prazer de poder conviver num espaço “aberto” onde a obrigação não é uma devoção.
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RC > Custa-lhe ver a Biblioteca jogar nos dias de hoje num campo pelado?
PR > O que mais nos custa não é ver a equipa jogar num pelado, mas sim ver que muitos jovens não querem jogar futebol porque as péssimas condições do campo são uma vergonha para todos nós. Quando começaram a surgir e despontar os campos sintéticos na região, na BIR entre responsáveis e jogadores germinou a ideia de que a última equipa da Divisão de Honra a ter um sintético iríamos ser nós, infelizmente fomos apanhados naquela descida excessiva de clubes e caímos na 1.ª Distrital, mas agora apostamos que vamos ser os últimos a ter um sintético no distrito. Nunca nos iludimos com as promessas dos presidentes da Câmara e não me refiro só a este, que não é nem mais nem menos “Pinóquio” que os seus antecessores. Infelizmente o desenvolvimento desportivo do Valado tem sido ao longo de muitos anos, obstruído por quem o deveria ter respeitado e desenvolvido com infra-estruturas que servissem os interesses de quem pratica e não outro tipo de interesses paralelos. Mais uma vez tudo no Valado vai ficar dividido, a
sede social, pouco produtiva, num lado, o bar social junto ao actual campo noutro lado, o pavilhão num canto e o futuro campo de futebol sintético, se vier a ser construído, noutro canto. Dividir para reinar tem sido e vai ser mau porque já há muitos anos que defendemos que a BIR unida e com uma sede social no mesmo local das actividades desportivas iria ser um clube muito forte!
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RC > Sente falta detreinar diariamente uma equipa?
PR > Mentiria se dissesse o contrário. Nasci quase no treino e para o treino. Não é por acaso que tireitodos os cursos de treinador de futebol (UEFA-PRO) e basquetebol (III Nível – LIGA) que permitem treinar equipas das ligas profissionais. Mas foi uma opção ponderada esta de estar a coordenador técnico da AFL. Continuo com o bichinho do treino e procuro ficar sempre todas as épocas com uma selecção onde sou o treinador. Por exemplo esta época treinei os sub-15, com o apoio de vários treinadores e terei de assumir a selecção feminina de sub-17 e, ainda serei treinador da selecção sub-15 “Manuel Quaresma – no Campeonato Nacional Inter-Associações de Futebol, que se vai realizar em Abril, em Lisboa e, onde encontro alguns jogadores da região, como por exemplo o Tiago Esgaio entre outros. Não treinando diariamente faço-o muitas vezes, quase semanalmente, satisfazendo o ego.
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RC > Gostava de voltar ao Valado ou espera convites de clubes de outros patamares?
PR > Há muitos anos, quando iniciei a minha vida de treinador de basquetebol sonhava conquistar o mundo e ser um grande treinador! Depois quando comecei a treinar futebol e me perguntaram se ambicionava a altos voos respondi que ninguém me conhecia como jogador e o futuro como treinador seria uma incógnita. Tornei-me mais realista. Hoje sou muito mais pragmático, a vida ensina-nos. Como os interruptores nem sempre estão para cima e quando estão ninguém sabe quem somos. Alguns nascem sob um bom “karma” outros não! Não acredito no “pai natal” nem que o “sol quando nasce é igual para todos”. O amanhã será um novo dia. O voltar ou não voltar ao Valado não é uma questão importante mas para minha terra estarei sempre disponível, desde que achem que os meus préstimos são bem vindos. Nunca me ofereci nem mendiguei lugares ou posições, acho que as pessoas devem estar onde gostam delas e onde se sentemacarinhadas e apoiadas. Não há nada mais gratificante que sabermos que nos reconhecem capacidade de trabalho e mérito no que sabemos fazer. No futuro hei-de estar onde
a minha capacidade e competência me levar, onde for desejado e eu também queira estar. Agora gosto muito do que estou a fazer.
Texto e Foto - Décio Vigia - Região de Cister

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