terça-feira, julho 14, 2020

Entrevista de António Carvalho ao O Portomosense

“É muito raro encontrar uma terra que tenha tantas pessoas ao longo da época a ir ver o futebol como no Alqueidão”
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António Carvalho é presidente e o sócio número 1 do CCR Alqueidão da Serra e é com orgulho e emoção que ao longo desta entrevista fala do clube, mas também de toda a comunidade que o envolve. Foi presidente entre 2000 e 2014, depois esteve um período como vice-presidente entre 2016 e 2018 e voltou a ser presidente em 2018, cargo onde se mantém até hoje e onde, recentemente, lhe foi renovada confiança para um novo mandato.
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Lembra-se do momento em que se tornou pela primeira vez presidente e quais eram os seus objetivos?
A primeira vez foi em maio de 2000 e fundamentalmente porque já era a quarta assembleia que existia e não havia direção, estando iminente a entrega das chaves para dissolver o clube. Esta foi a razão, não tinha nada previsto para o clube nem estava a fazer conta, nunca me tinha passado pela cabeça vir a assumir a presidência. Mas durante essa assembleia passou-me pela cabeça a ideia de vir a formar uma direção e por isso propus que me dessem 15 dias para pensar se tinha condições ou não, se conseguia reunir um grupo de pessoas para me candidatar e assim foi. Passado 15 dias apareci.
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Como é que um presidente se aguenta tanto tempo à frente de um clube, é por amor ou porque não tem aparecido mais gente para dar continuidade?
 Talvez tudo junto. Nós para fazermos coisas é necessário querermos e eu depois de entrar para a direção senti-me bem, escolhi um grupo de pessoas que me acompanhou quase sempre, algumas delas estiveram os 14 anos comigo. Nunca tive qualquer situação em que alguém saísse da direção por divergência de ideias ou de algum modo chateado e digo isto com alguma alegria porque quem está num lugar destes precisa saber ouvir a opinião dos outros, mesmo quando são contraditórias, e aceitá-las. Não é fácil, mas existe, em contrapartida, uma coisa pelo menos tão grande como essa: o nosso amor ao clube.
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Qual é a relação que tem com a estrutura e com os adeptos?
A relação com os adeptos foi sendo ganha no dia a dia. Com o passar dos anos, as pessoas vão compreendendo que, no fim de contas, todos nós fazemos parte de um conjunto em que cada um é uma pequena célula. Portanto, eu não sou presidente, como dizia alguém do futebol nacional, eu estou presidente. Neste momento cabe-me a mim, portanto tenho de dar continuidade a uma vida que o clube já tinha, de décadas, e em que lutei para que mantivesse os valores positivos. Depois, temos sempre o desejo de fazer algo e isso deu-me forças para criar cada vez um bocadinho mais. Hoje se olhar para trás, sinto-me contente com aquilo que fiz.
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O que falta fazer de mais urgente?
Muita coisa, isto é um trabalho contínuo. Nós nunca nos embebedámos com o que estava feito. É claro que aparecem sempre pessoas a dizer que o Centro é só futebol, mas é o que eu digo: se aparecer alguém credível a dizer que vem para a direção e que vai fazer outra área de serviço, eu digo para aparecer porque é um clube aberto. Perguntou-me quando vinha a entrar se o bar está aberto e muita gente diz que gostava que estivesse e eu digo que podem criar uma estrutura para abrir o bar, mas não podem pedir a pessoas da minha idade (a minha idade ótima já passou, também a gastei cá dentro), a darem esse contributo. Isto é uma casa aberta, cada pessoa tem ideias e têm aqui um espaço para dinamizar.
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Os alqueidoenses vivem o futebol de forma apaixonada?
Vivem. Não encontramos ou é muito raro encontrar uma terra que tenha tantas pessoas, por regra e de uma forma regular ao longo da época, a ir ver o futebol como o Alqueidão. Temos uma equipa de camadas jovens, uma equipa sénior e veteranos e toda a gente que queira agrupar-se ao domingo de manhã, pode utilizar as instalações sem ninguém se opor. Penso que no concelho é o único assim. O Alqueidão vive efetivamente o futebol porque é uma vivência de toda a vida. Alguns começam nas camadas jovens, depois têm uma extensão nos seniores e alguns que não passam pela parte sénior, aparecem nos veteranos, mas com os ensinamentos que receberam antes.
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Sabemos que uma das suas batalhas é a valorização do estatuto de dirigente, essa batalha está ganha ou não?
A primeira vez que eu ouvi falar no estatuto de dirigente foi com o Júlio Vieira [ex-presidente da AFL e atualmente nos órgãos da Federação Portuguesa de Futebol] e o Júlio, com a sua abertura e com as suas ideias novas, levou-me a perceber que isso era importante. Depois, ouvi na candidatura do atual presidente da Câmara, que não sei se representa o espírito que o Júlio queria transmitir porque não vi nada em concreto. O que eu pedia era que levassem as associações e dirigentes a contribuir quando lhes diz respeito. Mas que fique claro, em assembleia municipal, já ouvi falar em valores monetários, e eu nunca falei em valores. Não quero receber nada, o que eu queria era que quando eu tivesse um problema, ter a possibilidade e estar legitimado para ligar ao vice-presidente e ao presidente da Câmara para falar com eles. Isso para mim era fundamental. Tantas vezes fui à Câmara e não estava lá a pessoa com quem queria falar e nem sempre nos momentos em que quis falar via telefone me atenderam, vou acreditar que não puderam. É sempre uma limitação. O estatuto do dirigente, e creio que terá sempre que ser criado mais tarde ou mais cedo, é para dar alguma legitimidade e valorização do trabalho que é feito, porque isto é um trabalho brutal. Quem está neste cargo, não tenha ilusões, vai dar o seu tempo, o tempo da família e vai dar dinheiro para estar aqui.
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Com todo esse trabalho, quanto tempo quer ficar no CCR Alqueidão da Serra?
Já não cumpri o que tinha prometido no penúltimo mandato em que tinha dito que não me candidatava mais e agora fiquei cá. Há momentos em que é difícil, e agora com a COVID-19, com uma época desportiva que nem chegou ao fim, com um ano que ainda se apresenta mais difícil porque não vamos ter tasquinhas, é uma situação complicada. Não lhe sei dizer se continuarei depois deste mandato.

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