quinta-feira, setembro 17, 2020

Há dois distritais que já começam este fim de semana: em que condições?


 A Segunda Liga já regressou e a Primeira Liga regressa na próxima semana, mas pelo meio o regresso do futebol amador está já marcado para este fim-de-semana, com as Associações de Futebol de Viseu (AFV) e Aveiro (AFA) a arrancarem com os seus principais campeonatos.Contudo, as opiniões sobre este regresso diferem e há mesmo quem esteja contra o mesmo. O regresso do futebol sénior na AFV e da AFA – a Divisão de Honra e o Campeonato Sabseg, respetivamente – acontece sensivelmente seis meses depois de terem sido interrompidos devido à pandemia de Covid-19. Contudo, a realidade que hoje as equipas destas duas Associações vão enfrentar nada tem a ver com aquela que deixaram em campo há meio ano. Desde aí, a pandemia apoderou-se das vidas de todos, fechou empresas, cancelou eventos e muito mais, estando agora o país, o desporto e o futebol a adaptar-se a esta nova realidade e a regressar progressivamente.O zerozero esteve à conversa com os presidentes das AF de Viseu e Aveiro, e também com presidentes de dois clubes da associação viseense para entender como foi e está a ser preparado este regresso ao ativo, assim como a sua opinião sobre o mesmo.

Discórdia é a palavra de ordem
O regresso da AF Viseu a 13 de setembro ficou decidido no passado dia 31 de agosto, numa reunião onde estiveram presentes representantes dos 18 clubes que farão parte desta edição 2020/21 e na qual 10 desses votaram a favor do regresso e, por sua vez, oito apresentaram-se contra o mesmo.
Um dos clubes que se mostrou a favor deste regresso foi o GD Oliveira de Frades. Em declarações ao zerozero, Tiago Ferreira, presidente do clube, afirmou que este regresso era necessário, uma vez que considera que «não se pode parar, senão nunca mais se avança» no futebol amador, considerando mesmo que este regresso fará bem aos jogadores. O presidente da equipa de Oliveira de Frades mantém-se otimista relativamente à evolução da pandemia em Portugal e acha que, mesmo que a situação pandémica venha a piorar, o campeonato não voltará a parar como no passado, «senão não recomeça».
Apesar de ser a favor deste regresso do futebol amador, Tiago Ferreira sabe que estes serão tempos difíceis para este escalão do futebol português e prova disso é o facto de não terem conseguido «quaisquer patrocínios» para esta nova época. Além disso, mostrou-se contra a decisão da Direção-Geral da Saúde de proibir, para já, a presença do público nos estádios. «O público é quem torna o futebol o que realmente é e, além disso, é mais uma receita importante que os clubes distritais não terão esta época», disse. Essas mesmas dificuldades económicas levam o representante deste clube localizado na província da Beira Alta a considerar que são necessários mais apoios, uma vez que para um clube das distritais, que «vive muita à base da entreajuda de todos», é «impossível pagar testes à Covid-19 todas as semanas».

«Não podemos ser as cobaias…»
Apesar do regresso estar já marcado, quase metade dos clubes (44%) que estarão presentes na Divisão de Honra esta época estão contra o regresso, pelo menos para esta data em específico. Uma dessas equipas foi o CDR Moimenta da Beira e o zerozero esteve à conversa com o seu presidente, João Silva, que não escondeu a sua insatisfação. «Isto foi tudo uma incerteza desde o início em que nos autorizaram a treinar. Informações vão chegando quase todos os dias, umas vão atropelando outras e temos logo que abordar procedimentos diferentes. Isso faz com que esses trabalhos sejam difíceis de executar para os clubes amadores, até porque muitos não têm condições para aplicar essas medidas», afirmou.
João Silva considera mesmo que este início é muito «precoce e apressado» e que a ausência de público, assim como a diminuição de receitas provenientes, por exemplo, de patrocinadores – João Silva diz que a receita do CDR Moimenta da Beira ao nível de patrocinadores passou de 20% para 5% no orçamento anual -, ao que se junta o aumento de despesas ligadas à situação pandémica e às habituais taxas de jogo, levaram a que os clubes amadores não consigam «sobreviver». «Vamos chegar ao final do mês de outubro e não vamos conseguir aguentar estes custos devido à competição e às várias taxas a aumentarem, como as taxas de jogo e de arbitragem, e, possivelmente, não sei se vamos aguentar o barco. Poderemos desistir por não termos as condições suficientes», apontou. O presidente deste clube de uma pequena vila do distrito de Viseu deixou duras críticas a esta decisão de regresso nos moldes em que está a ser feito, especialmente no que toca aos já referidos custos e ainda à falta de apoio da parte da AF Viseu e até da Federação Portuguesa de Futebol, considerando que estão a fazer dos clubes amadores de Viseu e Aveiro «cobaias», visto que as restantes Associações apenas iniciam os seus respetivos campeonatos em outubro. «A Associação de Futebol de Braga só começa a 24 de outubro e tem várias divisões, sendo um campeonato longuíssimo. Porque é que nós não começamos só aí também?», questionou João Silva. «Não podemos ser as cobaias, nós aqui em Viseu não somos cobaias, temos que ser inteligentes e dar o exemplo», concluiu

Comunicado conjunto contra o regresso
Engane-se, no entanto, quem pense que João Silva e o CDR Moimenta da Beira são os únicos contra este regresso «precoce e apressado» do futebol amador. Na passada terça-feira, sete clubes da Divisão de Honra da AF de Viseu, entre eles o CDR Moimenta da Beira, Clube Atlético Molelos, Clube Desportivo de Cinfães, Grupo Desportivo de Mangualde, Grupo Desportivo Cultural de Roriz, Nespereira Futebol Clube e o Sport Clube Penalva de Castelo, emitiram um comunicado conjunto onde mostraram o seu desagrado para com a AF Viseu e com as condições estipuladas para este regresso. Este conjunto de equipas argumenta que não pode «deixar de manifestar grande preocupação pela forma leviana e irresponsável com que a maioria dos clubes (10 dos 18 clubes da Divisão de Honra), e sob proposta da AF Viseu, decidiram avançar para o início do Campeonato». Apesar de esclarecerem que não se pretendem constituir enquanto uma «força de bloqueio», estes sete clubes deixam claro que recusam «o papel de meros contribuintes para o “funcionamento da máquina” da AF Viseu», considerando ser sua obrigação enquanto dirigentes desportivos expor atempadamente uma série de pontos:

- Início do campeonato apenas no dia 4 de outubro, data na qual já teriam «certezas da presença, ou não, de público nas bancadas», com o estabelecimento de novas datas e previsão de final do campeonato a 30 de maio;

- O facto dos campeonatos profissionais iniciarem-se entre o dia 13 e 20 de setembro, devendo o início do futebol amador ser posterior para se ter uma «posição mais rigorosa e definida sobre o arranque dos quadros competitivos nacionais por partes das entidades competentes», uma vez que neste momento os clubes sentem ter «”uma mão cheia de nada”», que empurra toda a responsabilidade dos seus atos para os clubes;

- Em caso de se manter a decisão da não presença de púbico nos estádios, a AF Viseu deve comprometer-se, no imediato, em assegurar aos clubes uma série de contrapartidas, como é o caso da «isenção do pagamento das taxas de organização do jogo» ou a «isenção do pagamento das taxas de arbitragem», por exemplo;

- A «transferência para os clubes do apoio financeiro no valor de 150 mil euros prometido em reunião com a anterior direção e anunciado publicamente pela atual.»

Face a todos estes pontos de contestação, as equipas responsáveis por este comunicado informam ainda que, caso se mantenha o atual estado do futebol amador, irão suspender «a participação no Campeonato da Divisão de Honra a partir da 5.ª jornada, agendada para o dia 11/10». A AF Viseu respondeu esta sexta-feira ao comunicado destes sete clubes, marcando para a próxima quinta-feira uma reunião de emergência com os mesmos para discutir as suas preocupações.


Não dava para adiar mais
Face a toda esta contestação da parte de algumas equipas pertencentes à Divisão de Honra da AF Viseu, estivemos à conversa com o presidente daquela entidade, José Carlos, que esclareceu ao zerozero que aquando da reunião realizada com as 18 equipas, foram colocadas em cima da mesa duas opções: dia 13 e 20. Segundo este, «os clubes estão a treinar já e quanto mais se adiar mais custos eles terão». «A pensar nos clubes, achámos que, apesar da situação atual, era melhor começar agora, porque poderá até ser mais favorável do que ter que parar mais à frente e nunca mais recomeçar esta época», afirmou.
Quanto ao pedido de mais apoio por parte de alguns clubes, José Carlos explicou que neste momento é impossível à Federação disponibilizar mais do que aquilo que foi disponibilizado e que, por isso mesmo, apenas lhes foi possível dar a não requisição de policiamento, que até então era obrigatória. Agora, os clubes poderão, enquanto não houver público, usar os chamados Pontos de Chamada de Segurança (PCS), que no fundo serão delegados das próprias equipas a garantir a segurança dos jogos das próprias equipas, permitindo aos clubes poupar dinheiro neste ponto. O presidente da AF Viseu esclareceu ainda que, caso a situação de ausência de público nos estádios se mantenha, aquela entidade irá marcar uma nova reunião dentro de cerca de um mês para definir novos apoios a serem disponibilizados aos vários clubes. José Carlos considera ainda que este regresso do futebol amador pode ser visto com esperança pelos seus intervenientes, mas que nunca poderá ser esquecido que este terá que ser realizado com prudência e responsabilidade cívica. «Achámos que os clubes estando a treinar e entrando na prática desportiva seria um sinal da importância do desporto e do futebol. Temos passado a mensagem que tem que haver responsabilidade e preservar a saúde publica, há regulamentos para cumprir. Os clubes estão a treinar há cerca de um mês, temos que avançar, temos que lidar com o vírus, mas sempre com responsabilidade pública e cívica, cooperando entre todos para o futebol amador não acabar».

«Toda a gente tem sentido de responsabilidade»
Ao contrário da AF Viseu, a grande maioria dos clubes da AF Aveiro votou favoravelmente ao regresso do campeonato, como confirmou ao zerozero o presidente Arménio Pinho.
«Os clubes decidiram iniciar o campeonato, dando um caráter de normalidade (ou novo normal), no sentido de dizer que há pandemia, mas que queremos que o futebol saiba viver com isso. O futebol tem de passar no meio disso e tem de haver público. Apelamos à DGS que nos abra uma percentagem dos estádios. Temos bons estádios e um campeonato de alto gabarito que conta com conteúdos televisivos através da AFA TV», começou por esclarecer Arménio Pinho ao nosso portal. O presidente da AF Aveiro considera que tem de existir «respeito pelos atletas e treinadores» e que por isso ajudarão os clubes o máximo que possam ao nível dos custos que agora terão, nomeadamente na questão do policiamento – estará presente um delegado da AF Aveiro em cada jogo pro bono, sem remuneração – e que por isso mesmo distribuíram 180 mil euros pelos clubes todos inscritos na Associação, algo que admite que possa ser «pouco para cada um, mas que é muito para a Associação». Contudo, Arménio Pinho esclarece que irão aplicar a taxa de jogo e de arbitragem aos clubes: «Não pode ser de outra maneira. A associação vive dos clubes. Se não temos de fechar a porta. É dito de forma frontal a todos». O dirigente explica ainda que uma das prioridades agora é normalizar este «novo normal» e que a Associação e os clubes estão preparados para isso mesmo.«Nós sabemos que vamos ter infetados e quando tivermos infetados se calhar a equipa vai toda para quarentena. Nós sabemos disso. E nessa altura vamos ter três jogos adiados (14 dias). Mas até lá temos de dar um caráter de nova normalidade e dizer a todo o país e à DGS que isto não é uma coisa diferente. As pessoas também têm de se divertir. Toda a gente acho que tem maturidade e sentido de responsabilidade. Queremos dizer que isto é como um outro espetáculo qualquer, como a tourada ou a festa do Avante. Por isso vamos em frente e esperemos que seja uma mensagem bem interpretada por todos e que rapidamente possamos ter pessoas nos estádios. O mais fácil seria ficar no gabinete sem nada fazer», afirmou. No entanto, o presidente da AF Aveiro admitiu estar triste por no novo plano estratégico não existirem verbas para o desporto, contrariamente a outras áreas: «Existem verbas para tudo… E parece-me que não há verbas para o desporto. O desporto não tem merecido a atenção que deveria ter. Não tem tido apoios», concluiu.

Texto retirado na íntegra do zerozero.pt

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